Memórias da octogenária "casona" do sítio...
Atualizado: 12 de ago. de 2020
Quando vou para o sítio do meu sogro e escuto as histórias da "casona" abandonada, lugar que ele e seus irmãos nasceram, construída na década de 40 do século passado, com o suor de seu avô, me vem à mente a imagem do Titanic no fundo do mar... Aquele que um dia foi exuberante e imponente, vendo, inerte à ação do tempo agir e levando com ele, irremediavelmente as memórias dos dias de atividade da enorme casa feita com madeira de peroba em marcantes ornamentos orientais, herança afetiva do local de origem, após a difícil imigração em busca de um novo lar para reconstruir os dias, a vida...
Na estante, livros e mangás japoneses, vindos diretamente do outro lado do globo nas décadas de 50, 60 e 70, alimentam as traças, abrigam aranhas e servem de "vaso sanitário" para corujas e morcegos que entram pelo telhado castigado e aberto pela ação de uma tempestade, que derrubou sobre ele um grande galho de uma das árvores que em outros tempos também ostentava sua imponência e juventude, fazendo uma gostosa sombra no arredor. No chão: mochilas, maletas, quadros, pelúcias, entulhos, folhas, sujeiras, pisos quebrados revelando o porão escuro, teias de aranhas caranguejeiras, memórias de um tempo que jamais voltará. Nas paredes, restaram dois quadros de época, e os segredos que as paredes de uma casa presenciou e guardou. Quanta vida havia. Quanto brilho havia no chão, minuciosamente encerado até que se refletisse a luz que entrava pelas janelas. Na minha imaginação (e na lembrança deles): O "Titanic" novinho em folha, cruzando o atlântico, carregando com ele milhares de histórias de amor, trabalho, resiliência, suor, lágrimas, alegrias, tristezas. Histórias guardadas e adormecidas nas ruínas da "casona". Histórias guardadas nos corações de uma família. A família Matinaga.